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sexta-feira, 7 de abril de 2023

Legados do meu amor!

Hoje, 07/04, faz sete meses que meu amor partiu para outra morada.
Paulo Bayard, psicólogo, disse:
"Quem partiu, jamais morrerá. Mas irá se transformando, cada vez mais, naquilo que deixou. Essência e significado. "

 Acredito que nossa essência  é o significado que imprimimos na vida dos que nos cercam. Essência  e Significado estão interligados, e são os principais legados que deixamos ao partir. As pessoas vão se lembrar do que éramos, nossa essência, e do que significávamos em suas vidas.

Hoje,  consigo pensar sobre isto com mais objetividade, e enxergar,  claramente, a essência e o significado do Juan, em minha vida. 

Juancito chegou quebrando paradigmas, desconstruindo minhas certezas, abrindo novos horizontes. Sou grata pelos 28 anos de convívio. Conheci o ardor de uma paixão, e uma relação de  atenção, respeito, cuidado, carinho, e muito amor.  Me trouxe paz,  tranquilidade, e aceitação  das pessoas e  coisas, como são. 

A essência  do Juan era a  paz, a alegria, o estar de bem com a vida. Tudo entremeado de muito amor
Para ele  a vida era uma festa, se considerava muito feliz.  Nunca  se queixava. A resposta para como estava era: "excelente, melhor impossível". Via o que tinha, não o que faltava, e às vezes, faltava tanto!
Curtia  os prazeres simples da vida: jogar skype, ouvir música no Youtube, jardinar, passear, tomar um café, jantar fora, viajar, planejando antes, todas as etapas dos destinos, cozinhar uma  refeição para nós, cuidando dos mínimos detalhes. 
Era um romântico, movido a sentimento. Era da paz, da música, do sonho, da fantasia, era água fluindo. 

Qual o significado que ele teve em minha vida? Foi meu  SONHO,  meu TUDO
Veio colorir, apaziguar,  abrandar  meu fogo. Era a água, que  me faltava, assim como eu era o fogo que o aquecia.
Conseguimos, com luta, realizar muitos sonhos, construir Emery, viajar para inúmeros países e cidades, e também curtir nossa Garopaba. Tínhamos uma rotina simples, caminhar pela orla de mãos dadas, abraçados, ou ele me beijando, indiferente  com o que os demais pudessem achar. 

Nele encontrei amparo nas horas difíceis, podendo ser eu mesma, inteira,  contando, sempre, com sua aceitação irrestrita.  Fui muito cuidada.  Amava quando do nada me dizia:" Estás linda!" ou " já te disse, hoje, que te amo?"
Eram pequenos gestos, mínimas atitudes, que me fazem uma falta infinita. Está presente em todos os momentos, e consigo imaginar o que diria. 
  
Acredito que nós aprendemos e nos ensinamos, reciprocamente, importantes lições. Sinto muita falta de sua essência, e de tudo que significou, mas me conforta saber que viveu como queria, foi feliz,  e que estará, sempre,  presente em mim, e nas lembranças construídas.

07/04/23
Cida Guimarães 

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Renascimento

                                       Ressurreição

Paixão  de Cristo, sacrifício,  dor, martírio, e depois renascimento  vindo nos dizer que nenhuma dor é grande demais, nenhum padecimento é em vão.

  Se Deus deixou seu filho Jesus Cristo padecer na cruz, como podemos nos revoltar, nos achar desprotegidos, abandonados,  quando a dor e a miséria batem a nossa porta?
Há  que ter paciência, fé e resiliência. Acreditar que iremos superar as dificuldades, e teremos, ao final, se prestarmos atenção  às  lições,  aprendido algo, e quem sabe melhorado nosso ser.

A possibilidade de renascermos, também,  de nossas cinzas,  de olvidarmos as  decepções e mágoas, e empreendermos uma nova rota, iluminada pela sabedoria, adquirida  no nosso remover das pedras, que pavimentaram nossa caminhada é que nos enche de esperança  e força  para continuar,  sabedores que teremos dias luminosos, e outros mais difíceis, escuros, mas que sempre estaremos lidando  com a alegria e a tristeza, e que uma não existe sem a outra.

 Que uma possa iluminar e direcionar  a outra é  o que desejamos. Luz! Renascimento!

Feliz Páscoa!

CIDA GUIMARÃES

06/04/2023

domingo, 2 de abril de 2023

Divagando sobre Datas


Começamos  o mês, com o dia da mentira (01/04), uma celebração ancestral, de fazer "pegadinhas", que mesmo sendo relativamente inofensivas, banalizam o dano das mentiras. Elas nunca são  algo positivo, mesmo quando  são as "mentiras brancas", ditas sociais. Pura Hipocrisia!

Este ano,  como em muitos outros,  a Páscoa cai em Abril, dia 09,  depois meu aniversário, 12, e a independência do Brasil, 21. Datas com  significados distintos, mas significativas, individual ou coletivamente.  Datas e comemorações; como nos prendemos  a elas!

Já se passaram  mais de 6 meses,  sete  no dia 07/04, da passagem do meu amor para o outro plano. Neste ano, a  Sexta-feira santa, Paixão  de Cristo, dia de sua agonia e morte é  07/04.
Muito aconteceu desde então. Minha vida virou, literalmente, de cabeça para baixo e venho enfrentando muitas batalhas (pessoais, familiares, de trabalho e  manutenção das estruturas). 
Bem a vida é isto, lutas e superação! Não me queixo, me considero abençoada pois Deus me dá forças e condições de  lidar e de buscar superar as adversidades.

Depois, dia 12, meu aniversário. Chegarei lá? 

Quanto tenho aprendido e, acredito, me modificado, ao longo de minha vida! Quem sou eu hoje? Creio que mantenho  viva minha energia física e mental, talvez menos intensa, lógico, mais moderada, menos impetuosa, mais reflexiva e considerada com os demais. Hoje não crio tantas expectativas, estou mais aterrada, e procuro analisar bem uma situação, antes de me jogar. Ás vezes, ainda sucumbo à tentação do momento. Portanto,  a data sempre é para lamentar as perdas e festejar os ganhos( os mais e os menos)
 
Hoje, 02/04, bateu uma tristeza enorme e não sabia o porquê de meu choro convulsivo. Estava chorando o quê, exatamente? As perdas, as dificuldades, ou eu mesma, meus ganhos e perdas, e principalmente a perda de quem eu fui....a Cida, que se perdeu em algum lugar do passado. Hoje, sou para a maioria a Dna Maria, e é como se eu tivesse adquirido uma nova identidade, mais senhoril, autoritária,  reservada.

Na realidade, somos muitos, e poucos conhecem todas nossas facetas. Meu eu público é  distinto do meu eu privado. Há camadas, não identificadas e conhecidas por todos. Alguns vislumbram nosso EU real, outros só rotulam, sem ao menos tentar conhecer e entender.

Num mundo de tantos "fakes" quando é difícil saber se um perfil, uma notícia é verdadeira ou falsa, nossos relacionamentos também são em grande parte, artificiais e hipócritas. Há pouca troca, pouca verdade,  pouco amor.

Ah, o 21 de abril, nossa independência. Podemos celebrar ou ainda somos dominados  e de certa forma colonizados? Continuamos a importar valores, cultura e desvalorizar nossas raízes. Penso que para sermos independentes, tanto individual, como coletivamente,  há  que valorizar o que somos, estabelecer limites claros , preservar nossas propriedades, riquezas,  e cultura. Realmente é difícil  conquistar isto em um mundo globalizado,  mecanizado, onde todos querem copiar tendências e ficam, cada vez mais alienados. Temos, gradativamente, mais dificuldade em  comunicar   necessidades reais  e ter  um ouvido empático. Em horas difíceis, temos que lidar com atendentes virtuais, que não entendem nossas reivindicações e pedem para selecionar novamente no menu a opção correta. Será que tudo será mecanizado, eletrônico e nossas interações vão ficar paulatinamente mais estranhas? Socorro! Saudades de outros tempos mais simples, mais verdadeiros. Precisamos de muitos mais, mais, e poucos menos.

Cida Guimarães 
02/04/2023



sábado, 4 de fevereiro de 2023

PRESENTE

PRESENTE:

"TODAY IS A GIFT CALLED  PRESENT"


Nem sempre lembramos que estar vivo é um presente, uma nova  oportunidade para crescer, aprender e fazer diferente.
Dia de jogar fora o velho,  as amarguras, os arrependimentos,  as dores e tristezas, e  olhar à vida com deslumbramento pelo inusitado, pelo surpreendente, com que sempre nos brinda.

O presente é  sempre uma dádiva. Muitas vezes, desperdiçamos  o hoje, vivendo em nosso piloto automático,  alienados e insensíveis à maravilha de cada momento, como único e precioso; ficamos vivendo o ontem,  ou tentando antecipar o amanhã,  e  acabamos não  vivendo  nada.  

Não  podemos reviver, refazer, ter de volta nenhum segundo, e tudo será,  sempre, diferente,  só  ficarão  lembranças, que precisamos, hoje, fazer o possível,  para que sejam lindas, e inesquecíveis.




Cida Guimarães
04/02/2023

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Vítimas ou Senhores de Si?


Quando achamos que somos vítimas de um mundo cruel, que tudo está desabando, precisamos olhar para o lado, e ver que há pessoas, com dramas muito maiores que os nossos, e muitas continuam a tocar suas vidas, sorrindo e brincando, apesar de suas  mazelas. Há outros que são os coitadinhos e insatisfeitos eternos; sempre infelizes, reclamando de tudo, sem olhar para o que têm, só para o que falta.

Não podemos ser vítimas das situações ou das pessoas. Tudo que nos acontece tem uma razão, passada ou futura, e há que ter consciência que toda ação desencadeia uma reação, e que é necessário olhar e analisar, com atenção, o que estamos ganhando ou perdendo, e o que podemos tirar de aprendizado, sem dramas.

Quando meu filho foi hospitalizado, e descobriram, que além do apêndice, razão primeira de sua internação, havia um tumor no intestino grosso, pensei meu Deus, mais isto? Que tristeza! É  demais, vou viver de novo a dor de ver um ser amado sofrendo? Novamente emergências, hospital?
Não vou aguentar!  Pensamentos egocêntricos porque foi meu filho o atingido, é dele o sofrimento maior, a dificuldade, e eu só preciso apoiar, ajudar. Não sou vítima de nada. Por que a autocomiseração? 
Mais tarde, conversando com os outros três pacientes do quarto de categoria SUS, pessoas sensíveis, e batalhadoras, descubro   histórias de dificuldades, lutas, e perdas.

Ir para uma cirurgia, em princípio, simples de apêndice, e ter um tumor extirpado, no intestino, sobre o qual ainda paira a incógnita, se é benigno ou maligno, caso de meu filho, é bem complicado, mas foi importante, essencial para um bom término.  Algo ruim, devastador foi extinto antes de se tornar uma preocupação. Já não existe mais, em seu organismo.  Uma etapa necessária foi vencida.  Agora é seguir em frente, com fé e dependendo do resultado, seguir as próximas etapas, com coragem.

Ouvir as histórias de vida difíceis, de muita luta dos demais três  pacientes do quarto 329 do excelente hospital Nossa Sra. da Conceição, em Tubarão, fez evoluir em mim o sentimento que ao nos vitimarmos não enxergamos a dor dos demais, esquecemos que, nesta vida, ninguém tem só alegrias; cada um de nós tem seu quinhão de sofrimento, e há que ver o lado positivo, o que ganhamos em aprendizado, dar graças a Deus, a cada dia, e seguir com coragem e fé, que vamos conseguir vencer nossas batalhas.

 Um dos companheiros de quarto levou 4 facadas do cunhado, sendo que uma perfurou o pulmão, quase atingindo o coração, algo horrível e difícil de entender; o outro, foi desviar de um cachorro, o carro capotou e ele fraturou três costelas, na cervical, sendo que o veículo foi perda total, e ele precisa do mesmo para seu trabalho; e o terceiro, ao perder o controle do carro, que tombou morro abaixo, deslocou o pescoço e várias   vértebras. A sorte foi que somente o paciente, motorista do carro, se machucou seriamente.  Sua filha e as netas saíram ilesas. Ele já não podia estar dirigindo, pois tinha problemas de saúde, que afetavam sua destreza ao volante, mas devido à  sua teimosia, colocou a vida dos seus em risco. Aprendeu uma lição dura.

Estas histórias, e outras, fazem reverberar o sentimento que não podemos  considerar-nos vencidos. Há que batalhar, e seguir, com coragem, ou seja, acreditando em nossa força interior, em nossos anjos protetores.
Não podemos ser vítimas de uma situação, sempre é possível ter controle sobre nossas escolhas/ ações, e sermos senhores de nós mesmos. Olhar os ganhos de cada situação, e quais foram as bênçãos. 
É necessário autocontrole, fé em nossa capacidade de resiliência, e ser consciente que tudo, sempre, passa. As alegrias, as dores; tudo é efêmero.  Precisamos viver cada momento, como único, sem nos considerar vítimas, mas agentes de mudança, interna/externa, em uma eterna busca por nosso crescimento pessoal.

 Sermos senhores de nós!

Cida Guimarães
04/01/2023

domingo, 11 de dezembro de 2022

Derradeira Homenagem!


No dia 07/12, exatos três  meses após  a passagem do meu amor, fomos  fazer  nossa última homenagem, lançando suas cinzas ao mar, no lugar que amava,  e que escolheu para viver comigo os melhores anos de nossas vidas, a praia de Garopaba.

Cinzas, isto  que resta de nossa matéria, após nossa partida, se optamos pela cremação, mas  garantidamente, no final, viramos  pó. 
Não imaginava que seria algo tão doloroso! Sempre me pareceu que engavetar uma pessoa era horrível. Ficar emparedado! Entretanto, não sei se sofremos ao ser cremados. Será que nossa alma sofre? 

 Dentro da urna,  em um saco plástico, quase 1 quilo de cinzas, quase pó. Se não acreditarmos que nossa alma é imortal, e que nossa jornada,  nesta terra de provas e expiações, tem o propósito de nos desenvolvermos, melhorarmos, como pessoas, então tudo é muito sem sentido. Tanta luta, tantas dores, sei  que intercaladas por  muitas alegrias e conquistas, mas sempre a impermanência de tudo, tanto das dores quanto das alegrias para no final não levarmos nada, virarmos pó.  Tudo é muito efêmero!

Tenho a consciência que meu amor não é aquele monte de cinzas, mas o pensamento de que foi isto que restou de sua parte material me dá um nó na garganta, uma emoção gigante, e é difícil esta nova despedida.

 Pegamos, eu o Seba ( neto) a Sol e a Nina (bisneta) um barquinho pequeno, com o Lúcio e o Gabriel (pescadores) e fomos até um barco maior. Todo um esquema de passar de um barco  para o outro, e rumamos em direção à Vigia. O mar meio encrespado, tornando nossa  jornada um tanto quanto arriscada, resolvemos não ir até o outro lado da Vigia, e  decidimos ancorar, e  lançar suas cinzas ao mar  quase chegando a virada para devolver seus restos à natureza, à liberdade. Eu e Sol após ter  lançado, punhado a punhado suas cinzas ao mar, jogamos flores, e fomos todos arrebatados pela tristeza, pela emoção de estar nos desfazendo de um restinho de um ser muito amado. Será que ele também presenciou esta despedida?

Na volta, muito emocionados, nem sequer nos abalamos quando após passarmos para o barco menor,  Lúcio aconselhava Gabriel, que remava, a parar, e esperar determinada onda passar, e depois seguir. Como na vida, não podemos ir contra a maré, há que observar, e seguir o fluxo, com cautela e escolhendo as rotas.

 Devíamos observar mais os animais e a natureza, que  nos dão lições preciosas. Tudo tem seu tempo e hora e há  que prestar muita atenção  no quê focamos, o quê realmente importa nesta vida para não nos  perdermos  de nós, e de nossa missão.

Até um dia amor.... no céu, no mar, no além, mas, com certeza, nossas almas irão voltar a se reencontrar. 



Cida Guimarães
 08/12/2022











sábado, 15 de outubro de 2022

Lições de Vida

2022, vem sendo um ano difícil, e acredito, não só para minha família, mas para nosso país, e para o mundo: guerras, conflitos, doenças, catástrofes; um ano de dolorosas perdas, e a cada uma, parece que revivemos a anterior, que se expande e nos engolfa.

Quando parece que estamos enxergando uma luz, que vai sair o sol, vem novo turbilhão, e arrasa tudo. Torrente incessante de lágrimas. Conforme o ditado, "A Terra é  um mar de lágrimas". Natural, considerando que vivemos em um mundo de penas e expiações, mas estes são lugares-comuns, distantes,  aos quais não nos prendemos até  que  a realidade nos atinja, e nos force a  encarar o que, então, vira verdadeiro  para nós.

Choramos, pelos que se vão,  mas também, por nós, pelo  que perdemos; choramos o fluxo incessante da vida, que vai mudando tudo, tirando tudo de lugar, arrasando nossas certezas, tirando nossos esteios, e nos jogando de cara para um futuro que se avizinha, a nossa finitude.  Sim, é  tão  difícil entender o paradoxo  de nossa existência!

Tanta luta, tanto esforço,  tantos desentendimentos, para quê? Não  vamos levar nada daqui, e logo seremos pó, e tudo  aquilo que, para nós,  era fundamental, vai ter deixado  de existir. E nós? Talvez, em alguns poucos corações,  permaneçamos como uma lembrança amada, em outros, esmaecida, senão esquecida.

O que vale a pena, então? Acredito  que os amores, os afetos reais, que permanecerão  aquecendo nossos corações; as experiências  vividas, e as lições  aprendidas.  Somos, hoje, pessoas distintas? Podemos olhar no retrovisor e estranhar atitudes, decisões, que  hoje, nos parecem pertencer a outra pessoa, a um ser que não  existe mais?

Se isto for real, terá  valido a pena o caminho percorrido porque teremos evoluído, e seremos versões melhores  de nós  mesmos. Não  acabadas, perfeitas,  mas melhores, e teremos que agradecer à  Vida, às  nossas perdas, e lições de Vida. Sim, hoje, no dia do Professor, e sendo um,  sei não haver  melhor mestre que a experiência  vivida. A teoria pode somente iluminar a prática,  e nunca o oposto. Precisamos sentir, nos apropriar da questão para então poder  entender  e, quem sabe, aprender, e depois ensinar para também aprender.

Cida Guimarães
15/10/22

domingo, 25 de setembro de 2022

Primavera Gelada !



E  a primavera iniciou com frio, e está  combinando com  minha alma, que está gelada,  A dor, e a tristeza  da perda de meu amor, meu companheiro, parceiro de vida, vestiram-me de uma camada fina de gelo, como se eu tivesse, de repente,  parado no tempo. Fico a reviver cenas, momentos passados juntos. 
Como lidar com esta perda tão definitiva?  

Escutamos  frases lindas sobre nossa finitude, sobre ser forte, cuidar de si, e que a vida segue. O desejo é de nos reconfortar, e, talvez, eu até dissesse para alguém o mesmo,  na mesma situação, mas  no momento da perda, não ajudam. Só o abraço e a presença bastam.  O único que queremos é parar o tempo, retroceder,  fazer a roda voltar, e ter novamente nosso amado conosco. Sentir o abraço gostoso, a palavra carinhosa, compartilhar momentos e ter novas experiências conjuntas. Precisamos do silêncio, de estar conosco e com nossas memórias, viver nosso luto até a dor  amainar, e conseguirmos revisitar lugares e pessoas que foram parte de nosso cotidiano.

É difícil o recomeço. Há que criar  uma rotina distinta,  novos hábitos, e ir, pouco a pouco,  se desvencilhando de coisas  que te remetem ao passado. Há que seguir. Estamos vivos, e ainda temos algo por construir, ou melhor, não terminamos nossa tarefa por aqui.

Ainda não sei o que quero ou espero dos dias que virão,  mas  vou  viver cada dia da melhor forma possível, resolvendo os pequenos e grandes problemas, na medida que forem surgindo, e buscando forças para seguir. Há que  prosseguir.

 Acredito que temos um tempo pré-determinado,  em nossa estada  aqui, e há que cumprir  nossa tarefa, que, se ainda estamos vivos, não foi ainda cumprida. Amo a vida por ela ser tão surpreendente. Nos joga literalmente no chão, mas depois nos brinda com o inesperado. É só estar desperto, observar a natureza, os pássaros, a vida acontecendo, e ver tudo de bom e  belo que nos circunda para vermos como  somos abençoados.



CidaGuimarães 

25/09/22


terça-feira, 31 de maio de 2022

Superstições

 
Não sou uma pessoa supersticiosa, mas acredito na força do pensamento,  e em minhas intuições. Estas  não têm,  geralmente,  a ver com crenças infundadas, como  a que diz que ver um  gato preto significa morte;  que dá  azar passar debaixo de uma escada  e uma série  de outras, que conforme a cultura, têm um significado distinto.

Meu pai não nos deixava varrer a casa a noite pois dizia que o dinheiro saia pela porta, e minha mãe  tinha a superstição que quando deixávamos cair talheres, vinham visitas em casa. Uma faca e/ou uma colher  era uma mulher, um garfo um homem.  Se caíssem os dois, viriam ambos. Isto, realmente aconteceu várias vezes. Coincidências? Talvez. Tudo sempre depende de onde colocamos nosso pensar, da importância que damos a determinados fatos. 

Para entrarmos em um templo chinês, você tem que dar três badaladas em um sino: para chamar Deus, avisando que você está chegando,  e pedir permissão para entrar. São  lindos os rituais. São  superstições? Acredito que podemos denominar crenças, que são seguidas,  há milênios.

No México,   a cerimônia  de casamento tem também uma série de rituais lindos, e no dia dos mortos levam comida e festejam a nova vida.

Me espantei  na China, com as noivas casando de vermelho porque é  a cor da paixão,  da sorte; com gatos acenando na porta para trazer  dinheiro, e os três chineses simbolizando as prioridades na vida: o primeiro, vermelho, é você ter  sorte; o segundo, o verde,  simbolizando  sabedoria,    e  o último a ser atingido é  o velho de cabelos brancos, a idade avançada.  Se só  tivermos sorte,  sem sabedoria,  não chegaremos à velhice. 

O que mais me espantou, e posso dizer ter sido, para mim, uma superstição  concretizada foi  um tailandês  me perguntando se eu era uma sexta feira. Fiquei bem  confusa: “Como assim?  por qué? O que tem a ver? “Nunca havia pensado, e nem sabia em que dia da semana  eu havia nascido  e se eu era/ sou uma sexta feira.   Só  depois fui pesquisar (Google,data de nascimento/calendário) 
e constatei que ele estava certo. Eu sou. Como descobriu? Minhas características são assim  tão  evidentes? 
Acreditam que o dia da semana em que nascemos infuencia nosso agir. A sexta é  regida  por Vênus, planeta do amor,  do social, da elegância. Muitos me veem assim.  Será? Nem sempre.

Os povos orientais são muito supersticiosos, e têm  mais rituais do que nós  ocidentais.
Eu acredito que damos força, e tendemos a tornar realidade tudo aquilo em que acreditamos, e nos  empenhamos em realizar, fazendo  com que nosso pensamento acabe afetando nossa realidade, e certas coisas, realmente, acabem  acontecendo.
 Rituais seguidos e tradições mantidas viram superstições.  Claro, vai depender de nosso agir. Se nada fizermos, nada vai ocorrer.


Cida Guimarães 
31/05/2022


domingo, 29 de maio de 2022

Minha Maior Lição

 


 


A vida  vem me dando várias lições. Nem sempre as aprendo, então,  às  vezes, ela se encarrega de me fazer viver situações similares, desafiantes, sucessivamente.  Acredito  que sou uma aluna  um tanto relapsa. Digo isto porque, invariavelmente, fico envolvida em problemas, que, no fundo, têm algo em comum, e já foram vividos, experienciados, de alguma forma.  Há  alguém  necessitando de ajuda,  e um dilema moral  e econômico a ser resolvido: o que devo ou não  fazer? O que é  positivo/ negativo? Posso/ devo me  omitir/ interferir? Como isto vai me afetar? Como lidar com a culpa se eu não agir ou se minha ação for equivocada?

Como todas as grandes crises envolvem sentimentos e situações complicadas, nosso senso ético, os conceitos  e preconceitos, com que fomos criados,  foi somente após muita reflexão, que  constatei que  todas as situações por mim vividas, envolviam decisões em que eu me debatia com meu ego. Minha razão e minha emoção gritavam  querendo coisas distintas. Sempre evitei o julgamento e procuro me colocar no lugar do outro para ver como eu agiria, mas meu ego, sempre interfere. Pensamos ser melhores, superiores. Cheguei , então, a conclusão   que o desafio era lidar comigo mesma, vencer minhas limitações. Ser humilde.  Este é o pré-requisito, a lição primordial, que irá dar  sustentação ao  resto.

 Humildade para reconhecer  minha impotência  frente à vida  e aos  demais. Ter consciência que só posso responder por mim, decidir, e enfrentar as consequências, de minhas ações, sejam elas quais forem, mas não tenho como impedir, ou definir os rumos da vida dos outros, por mais amor envolvido.  Preciso exercer a humildade de me saber finito, restrito e incapaz de alterar os percalços que a vida irá  nos fazer enfrentar. O único que posso dominar é o meu eu, reconhecer minhas limitações, e  usar meu livre arbítrio  para fazer as escolhas adequadas com coragem e determinação.

Ser humilde, entretanto,  envolve  muitos pequenos e grandes passos: ter consciência de meus pontos fortes e fracos, reconhecer minhas vulnerabilidades, erros, ser capaz de me despir de camadas de auto proteção,  egoísmo  e máscaras, e mostrar-me como realmente sou. Esta é a grande dificuldade e a lição maior que tenho que aprender- identificar meu eu real.

Quem sou eu ? Lá, no fundo, não identificado por muitos? O que quero da vida, qual meu objetivo,  o que desejo  deixar como  legado de vida?

Aprender a ser autêntico, expressando e evidenciando, aos demais, meu eu interior;  não ser  uma marionete manipulada; saber, com suavidade, colocar  uma linha divisória  entre o que é  bom para os outros, e o que é bom para min;  agir para  contemplar necessidades diversas, sem trair meus sentimentos, sem me violentar, e/ou  magoar os outros.

Tenho consciência que somos eternos aprendizes e que ainda vou ter que  retomar conceitos, refazer lições e revisitar minhas posições e atitudes para ver se estou realmente aprovada nesta lição. A lição de reconhecer meus limites, minhas possibilidades e que não sou melhor ou pior do que ninguém; só distinta, única, como são todos os demais.

 

Cida Guimarães

21/05/2022

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Mentiras Brancas






O que são  mentiras brancas? Existem as pretas?  Revendo esta postagem , acredito que, hoje, já não devemos utilizar o termo mentira branca pois  não é politicamente correto. Como se o branco fosse bom e o preto ruim.  Linguagem carregada de pré-conceitos.

 Uma mentira pode ser boa? Para quem?

Esta história de mentira branca tenta justificar aquelas mentirinhas bondosas, que procuram mudar a realidade, preservar o outro, ou achar uma forma mais fácil para si mesmo de contar algo não abonador. Uma mentira nunca é positiva. Ela acaba prejudicando tanto o que conta como o dito beneficiário.  Custei  muito a me livrar desse hábito triste de mentir, ou distorcer os fatos. Em casa, isto ocorria,  com frequência, o que me confundiu  e atrapalhou muito. 

Havia visitas, que mamãe não queria receber, e dizia: "Diz que eu saí". Me envolvia em sua mentira. A pior, que me lembro, foi quando fiquei doente  com pleurite, e tinha que falar estar com problemas de tireoide. Não entendia na época com 11 para 12 anos o porquê.  O problema era o preconceito, na época, com a tuberculose,  então de difícil tratamento. Em cada época uma doença é maldita. Sempre o preconceito ou a preocupação com a opinião dos demais.
 Havia gastos, coisas pequenas, que também  minha mãe  escondia do papai, que era mais pé no chão, e encarava a realidade.  Não  há  aqui uma crítica a minha mãe, muito importante, amei, e vou amar, sempre; possuidora de qualidades admiráveis, mas ninguém é  perfeito,  e este era um problema originário de uma criação/ relação equivocada,  de preconceitos e falsos valores arraigados. 

O hábito de   mudar,  transformar e nunca contar a verdade, nua e crua é pernicioso, se instala e vai gradativamente minando relacionamentos .
 A confiança se perde quando nunca nos contam as coisas, como  realmente são. O nariz vai crescendo e fica disforme que nem o do Pinóquio, que ilustra bem a moral da história.

Nos relacionamentos sociais esta é uma prática comum. Convites que não são convites, elogios falsos, frases de efeito e promessas nunca cumpridas. Raro encontrar alguém que  ao ser questionado sobre algo te dê sua opinião real, sincera. Há, invariavelmente, a tentativa de não desagradar, falar o que seria melhor aceito. 
Muita hipocrisia !
O pior é que a pessoa fica prisioneira da mentira e acaba até mesmo acreditando nela.

Já  contei mentiras?  Claro, mas nunca foi positivo. Hoje  por mais  difícil que seja  tento ser honesta e contar a real, ou pelo menos, me esquivar da resposta. Outro dia li que ao ser questionado sobre algo, que não desejamos responder, a melhor opção  é  perguntar:
" Por que você gostaria de saber isto?"
Eu, geralmente, não faço  perguntas invasivas, que coloquem o outro em uma situação constrangedora, exceto se tenho muita intimidade e desejo ajudar.

Há  também  as omissões. Não contar é  mentir? De certa forma, dependendo,  do que está sendo omitido, sim. Se afeta o outro, se saber algo pode mudar ou interferir na vida da outra pessoa, sim, a omissão é uma mentira.

A sinceridade absoluta não  é  fácil e talvez, seja até impossível porquê iriamos magoar e   ferir as pessoas ou sermos magoados. Há  coisas que é  melhor silenciar. Uma dicotomia que precisa de nossa atenção  e muito cuidado para saber dosar e utilizar com sabedoria nossa sinceridade.  Uma arte a ser cultivada. A sinceridade total é, muitas vezes, pura  grosseria. 




Cida Guimarães
23/05/2022

terça-feira, 3 de maio de 2022

UMA NOITE DE TERROR !

 



Deitada no sofá da sala,  de pijama,  assistindo TV depois de um  interminável dia de aulas, Joana  curtia a paz, quando  se fez noite.  Tempestade se aproximando. Continuou se refestelando  embora a sala fosse repetidamente iluminada por  relâmpagos,  seguidos por estrondos, e a chuva, agora, fosse torrencial. A natureza  estava em fúria. Tenta se concentrar na novela. Sempre temeu os temporais.

Soa a campainha da porta freneticamente. Quem seria? Não era o interfone, então deveria ser um morador do prédio. Levantou-se,  abriu a porta, e deu com o Sr Márcio, seu vizinho de porta,  senhor idoso,  meio mal-humorado.  Geralmente, vinha   evitando puxar conversa com ele, pois  desfilava sempre  um interminável rosário de queixas. Para o seu“ Bom dia, tudo bem?” A resposta era invariavelmente“ Não, nem sabe, estou com muitas dores, e hoje....” Naquele dia foi incisivo:
"Rápido,  saia rápido, que a água já vai invadir seu apartamento". Sem entender bem, Joana  olhou para baixo e viu que a água, realmente, já adentrava o apartamento.  Foi nos fundos, onde havia uma área adjacente a cozinha e viu a água entrando com força. Já  estava em dois palmos de altura. Desesperada, sem saber o que fazer,  pegou o celular, óculos,  levantou alguns poucos objetos, e de pijama mesmo desligou a chave de luz e foi com o Sr. Márcio para o  apartamento da Jacira no 1°andar,  onde já se encontravam outros moradores. Foram todos  para as janelas do apartamento de frente e para as escadas, que tinham janelas para a rua, que havia se tornado um rio;  no térreo, a água já estava, agora,  na altura de meia janela.

Viram uma mulher pedindo socorro; o  carro  dela boiava e  ela não conseguia sair  do mesmo.  Gritos aflitos! Carlos, homem alto, musculoso dono de um lava-carros/garagem a meia quadra do prédio, onde Joana também guardava seu carro, aparece para ajudar, e consegue retirá-la pela janela. Cena inesquecível. Medo, tristeza, compaixão, alívio. Mistura de sentimentos. Nunca imaginara viver algo assim!

 Eram três os moradores do térreo: Joana, que vivia só, o  Sr. Márcio, com a esposa e Katia, com marido e dois filhos.  O apartamento da Kátia era  o maior, deste andar, com  dois quartos.
A sensação  de todos era de desespero e impotência, vendo suas casas serem alagadas.  O senhor Márcio, morador antigo do prédio,  já  havia vivido esta situação antes; Joana nunca havia pensado ser protagonista de uma cena tão aterradora.

 Quando  visitou  o imóvel para comprar havia  lhe chamado a atenção uma escada no térreo, que lhe pareceu sem sentido. Era em V invertido e não levava a lugar algum; a escada  para os demais dois andares  era mais atrás, sem conexão com estes três degraus. Havia perguntado e  lhe disseram haverem levantado para evitar alagamentos.  Pareceu estranho, mas não lhe ocorreu que pudesse  entrar água, na proporção do ocorrido. O apartamento era o que estava buscando. Lindo, aconchegante, e com um mini pátio, nos fundos.

 A chuva forte durou cerca de 1 hora, mas ficaram no 1.º andar por cerca de  três horas, até a água baixar. Neste ínterim, Joana tentou ligar para os filhos, mas só conseguiu falar com  Pedro, o mais velho, que disse para ela  ir para a  casa  dele, o que, no momento,  era impossível. Estavam ilhados. Ligou para o namorado, que estava em viagem,  para desabafar, contando que ao sair do apartamento a água já estava no meio da janela, 1 metro e meio.  O que ele poderia fazer? Só a necessidade dela em desabafar, e dividir este momento horrível com alguém próximo como se isto fosse amenizar o que estava passando e sentindo.
Quando, finalmente, a água baixou,  desceram para ver os estragos. Um horror!
A geladeira boiava no meio da cozinha, gavetas alagadas. Lama  e entulho. Uma devastação com muitas perdas. Um cheiro horrível. Não era possível examinar os estragos porque à luz de velas,  só  era possível  ver que os móveis haviam sido muito estragados.  Impossível ligar o interruptor, pois poderia causar um curto-circuito.
Trocou de roupa, pegou documentos e dinheiro que,  graças a Deus, guardava em   gavetas mais altas, caminhou até a avenida, com água, ainda pela canela, e após alguns minutos conseguiu chegar até um ponto de táxi, e foi para o apartamento do filho.  A garagem, na mesma rua, onde guardava seu carro, também estava alagada e seu carro precisaria, com certeza,   de reparos.
Uma sensação de abandono, perda, desespero.  Sua casa, seu canto de lazer, e até  seu  carro, destroçados. Não sabia  quais  eletro domésticos ainda estariam funcionando, e   nem estimar as perdas reais. Estava abalada, havia perdido sua noção de pertencimento,  seu lugar de descanso, seu refúgio.
Ficou imaginando como deveriam se sentir os moradores ribeirinhos, que vivem esta situação, rotineiramente, ou  no temor que possa ocorrer. Pensou, também, nos grandes desastres/calamidades, e no sentimento das pessoas que de uma hora para a outra perdem suas casas e pertences.

 Manhã do outro dia, após uma noite insone, com as cenas se repetindo em sua cabeça, como em um filme, chegam, ela e o filho ao apartamento. A rua é um entulho de lixo, lama,  restos, esgoto. Fede muito! Há muita gente na rua, além de repórteres de TV. Todos questionando, comentando e confraternizando na dor. Havia  histórias  piores que a dela.  Kátia, cujos móveis não  eram embutidos, tombaram, quebrando objetos, causando muito estrago,  e com perdas ainda mais significativas.
Joana nem sabe por onde começar. O apartamento está destruído. Os tabuões do chão estão  com buracos, os armários embutidos soltando a cobertura de MDF, livros inchados, sapatos  que ficavam em gavetões, embaixo da cama, destruídos. Gêneros perdidos. Havia comprado há pouco duas poltronas, brancas, lindas de embalo, que jaziam  tombadas, cobertas de barro.
 Começam a tentar a limpeza, levantando os eletrodomésticos e testando tudo. Adentram os repórteres, com câmeras de TV,  questionando as causas e solicitando entrevista. Joana dá uma declaração: 
 "Esta tragédia foi provocada por obras inacabadas na construção de um ducto, que devido a um planejamento pobre e descuidado, bueiros entupidos, deixaram ruas vulneráveis, e a enxurrada veio derrubando muros e estacas mal colocadas.  "O que as autoridades vão fazer agora?  Como vão indenizar os moradores ?”
Após recolherem a  roupa para lavar, colocando muita coisa no lixo, chamaram uma equipe para limpar e desinfetar tudo.   Era humanamente impossível fazer todo o trabalho. Nem sabia por onde começar. Foi para um hotel  já  que não era possível pernoitar ali.
Voltou para o apartamento após 3 dias, mas a sensação era horrível.  A cada noite e a cada temporal, o medo de um repeteco; além disto, minhocas e outros insetos saiam do piso danificado. O cheiro de esgoto insuportável. 
Não houve  auxílio/ contato por parte do município ou medidas para prevenir nova tragédia , com a obra se arrastando. Um ano depois,  o apartamento já reformado, voltou  a ser alagado e Joana decidiu vender.  Não queria arriscar uma próxima vez.  
Situações traumáticas ficam como impressas, e conseguem fazer o sentimento original ser revivido.

 Sem esconder  o ocorrido,  com o imóvel em perfeitas condições, conseguiu um preço justo. Não conseguia mais morar ali. As recordações eram penosas. Iria recomeçar em outro lugar.  Queria outras lembranças. Aquela casa já não mais seria seu lar, sua segurança, seu refúgio.

A obra acabou sendo concluída, quase três anos depois, e acabaram-se os alagamentos.  O município  não se responsabilizou  ou ressarciu os moradores pelo prejuízo e tiveram que entrar na justiça para cobrar seus direitos. Ganharam a causa, danos físicos e morais, mas os precatórios ainda não foram pagos, em sua totalidade.


 NA: Crônica com base em fatos ocorridos. 
 

sábado, 26 de março de 2022

REMINISCÊNCIAS

 





 
Olho para trás,  meus anos de primeira infância, equilibrando-me nos beirais dos canteiros,  que  dividiam  o pátio  em quadrados, cada um com diferentes árvores frutíferas.  
Lembro que em determinada estação, hoje não sei precisar qual, ajudávamos a ensacar as frutas para as  proteger dos insetos. Adorava fazer isto. Papai nos  dava alguns cruzeiros, (anos 50).  Colhíamos muitas frutas, que os parentes e vizinhos levavam em sacolas. Mamãe  também preparava vários  doces em calda: figo, laranja azeda, doce de batata doce.
Deliciosos! Consigo, hoje, ainda, sentir o
  cheiro e sabor. Incrível como lembramos cheiros e sabores.
Anos mais tarde, meu pai plantou um  canteiro  só com roseiras.  Ele amava, em suas horas de folga, pegar uma enxada e revirar os canteiros. Era um terreno longo de mais de 30 metros. Bem ao fundo, havia  um galinheiro.
Era muito especial  colher  os ovos e ver as galinhas  voando de poleiro em poleiro, cacarejando  alvoroçadas. Amava a cena! Era tudo muito de repente; com minha entrada, o caos se instalava. 
Assim é na vida da gente; o inesperado nos tira de nosso eixo. Esta é, talvez, uma lembrança  marcante de minha primeira infância. 


Não tinha muitos amigos, mais imaginários que reais, e meus irmãos eram bem mais  velhos. Me encantava criar histórias encantadas com minhas bonecas e meus diversos bichinhos de estimação. Tive um porquinho da índia, que amava vestir, e  arrastar  em minhas aventuras pelo pátio e vizinhança. Anos mais tarde, tive uma tartaruga. Minha diversão era fazer a Julieta colocar a cabeça fora do casco. Eu dava soquinhos no casco e chamava: “ Jujú, vem pra fora.”  Hoje penso que há muita gente como a Julieta, que se esconde do mundo, que pode ser  muito inseguro, apavorante.

Meu pai tinha um papagaio, Zacarias, mas com exceção de meu pai, Zacarias
 não deixava ninguém se aproximar. Bicava e xingava com o palavrão preferido de meu pai. “Que merda! “ Manhã cedo gritava: “ Louro  quer café.”
Para desespero de  meu pai, um dia o louro sumiu. Mamãe alegou que esquecera de cortar suas asas e que devia ter alçado voo e se perdido. Papai custou a se consolar. Algum tempo mais tarde comprou outro,  mas não era igual. Nada é. Tudo é substituível, mas não igual.
Ele nunca  soube  a história real. Rebeca, cadelinha pinscher da  mãe, junto com seu filhote Sheik haviam depenado e matado o pobre Zacarías. Mamãe encontrou as penas e seus restos, pelo pátio. Horrorizada nunca falou ao papai, e nos proibiu de contar a verdade,
Mentirinhas. Contamos algumas para evitar desentendimentos, tristezas,  mas a verdade dói  em nós.

Cida Guimarães
26/03/22

 

quarta-feira, 16 de março de 2022

A Persistência da Memória



 O que permanece com a passagem do tempo?   


Ao longo da vida vivemos ciclos distintos, assim como a natureza,  e  gradualmente, vamos mudando, nos tornando outros. Nada fica igual, tudo se transforma, se dilui,  se modifica. 
Olhamos para nós mesmos, e não nos reconhecemos.  Os cenários são distintos, os sentimentos, as percepções, os objetos.  As memórias permanecem, mas alteradas por nossos estados físicos e psíquicos . Algumas são mais  persistentes porque nos remetem a situações marcantes em nossa vida; outras nebulosas.

Este quadro  de Salvador  Dali nos  faz pensar  em como a passagem do tempo dilui quase tudo: emoções, percepção, objetos, sua importância e nossa visão dos acontecimentos. Como é rápida esta passagem!

 Olho para minha vida e vejo várias outras, distintas, em um todo que já não está perfeito, mas alterado pelas lembranças e emoções.  Como um sonho do qual lembramos fragmentos, mas não a história completa.

Com o passar dos anos, acredito,  lembramos mais do passado do que de fatos presentes.  A memória registrou tudo que foi marcante, e nos faz reviver momentos, que tiveram relevância em nossas vidas. Recordamos  alguns fatos que tiveram impacto, e apagamos outros. O tempo e nós somos passageiros, transitórios, mas as marcas, os registros,  a história  permanecem, e persistem em nos lembrar o que foi importante. 

Esta é a  persistência da memória, principalmente, em se tratando de arte,  pois atravessa séculos, transmitindo emoções e sentimentos vividos.
É  história, cultura.

Cida Guimarães
16/02/2022

sexta-feira, 4 de março de 2022

Felinos Magnéticos!

                  

Há muita superstição sobre gatos, principalmente, os negros. Costumam estar associados a maus presságios, azar e possíveis mortes nas famílias.

 Na antiguidade, eram ligados a bruxas, feitiçaria. No Halloween, sempre, há muitos gatos pretos marcando o supernatural. Entretanto,  não se justificam estas crenças negativas. Há muito de positivo. Hoje, sabemos que os gatos pretos, geralmente, se aproximam de pessoas espiritualizadas; escolhem seus donos. São majestosos pelo contraste de seu pelo negro com olhos, na maioria das vezes, muito claros, verde ou amarelos. São lindos!

Ao buscarem seus donos acabam por também reproduzirem seu comportamento. No budismo e nas religiões orientais os gatos são seres iluminados, que transmitem calma e harmonia, e retiram nossa carga negativa, ajudando o ser humano a se conectar com seu inconsciente.

 A Negrinha, uma gatinha preta com algumas manchas ferrugem,  espalhadas pelo corpo, e uma patinha  que acredito ser quebrada, pois, é dobrada quase na ponta, fez de nossa casa sua morada. Veio para cá há uns dois anos para ter uma ninhada, e desde então dorme nos diferentes chalés, em cima do capô do carro, nas lixeiras. Sempre, super arisca,  não deixava eu me aproximar. 
 Este ano resolvi  tentar vencer sua resistência. e comecei a colocar ração e água em um potinho. Isto já faz dois meses e já houve  avanços. Já responde ao meu chamado, deixa eu  chegar perto,  mas ainda não aceita o toque, só muito de leve. Até entra na lavanderia . Ela parece ter sofrido muito, pois tem muito receio e além disto tem o Negrão,  seu macho, que vem todo metido, e acaba comendo quase toda sua comida. Ele é grande, forte, preto retinto, lustroso, com um garbo e uma arrogância que contrastam com a timidez, o receio,  e o avanço tímido da Negrinha. 

Desculpem os nomes  que, talvez, não pareçam politicamente corretos, mas expressam meu carinho e os designam perfeitamente. 
Há  entre a Negrinha e o Negrão  uma relação de dominação e abuso, como acontece  em alguns relacionamentos humanos, onde as mulheres  se submetem e ficam a mercê dos desmandos de seus companheiros.
 Quando olhamos e analisamos o comportamento  dos racionais e irracionais podemos constatar várias similaridades, e muitas vezes os irracionais são  até mesmo, menos violentos e agressivos do que os  ditos racionais.

Sempre gostei de gatos. Adorava a Kitty, uma gata que tive há quase 30 anos. Lembro dela entrar de manhã cedinho em meu quarto e ficar arranhando o carpete até eu acordar  e ir dar de comer. Se enrolava em minhas pernas. Ao vendermos a casa, após minha separação, não quis levar para o sétimo andar de um apartamento e ela foi com  meu ex-marido para o sítio, onde não se adaptou. De lá para cá não tive mais cachorros ou gatos, mas para mim, a natureza e os animais, parte da criação divina, fazem minha alma vibrar. 

Gatos nos ensinam como manter  e utilizar nossa energia de forma positiva.  Não desperdiçam  movimentos; estão imóveis, e de repente saltam com uma leveza invejável. São, velozes e super limpos. Sentem a situação,  o ambiente, e rapidamente  buscam refúgio ou  se roçam em nós para mostrar seu apreço.
 A Negrinha e o Negrão foram, gradualmente, se domesticando e, hoje, conseguiram com sua obstinação, um abrigo, nossa afeição e cuidados. 
Nos magnetizaram!