Anos difíceis
Hoje, ao pensar em quando comecei a escrever e publicar, minhas reflexões, poemas, e crônicas, um sentimento estranho, tomou conta de mim. Sempre curti escrever, mas em meus blogs e diário, para meu uso pessoal. Somente em 2021, iniciei a compartilhar minhas escritas, como se necessitasse extravasar meu mundo interior, que estava em conflito. Uma necessidade, uma urgência de expor o que estava rolando dentro de mim, como se uma parte de minha vida estivesse terminando, e eu em um beiral para iniciar um período de transição, de muitas dificuldades, sendo a escrita minha forma de escape, desabafo.
Começou com a pandemia, que nos deixou reclusos, e com medo do outro, e do porvir. Sofrimento e perdas de pessoas conhecidas. Em 2020 e 2021, sem podermos viajar, fiz vários cursos online, e resumia seu conteúdo em meu blog. Em 2022, vieram mais perdas: Zé, meu irmão querido em 2020, depois a doença do Juan, suas repetidas hospitalizações, perda de meu sobrinho querido em maio de 2022, a sofrida partida do meu amor em 07 de setembro, minha cunhada em outubro, e inúmeros gastos com prejuízos financeiros, em novembro. Em 28 de dezembro, descoberta da doença de meu filho, e sua primeira hospitalização e cirurgia.
O ano de 2022 foi inteiro de batalhas, perdas e luto; 2023, quase terminando, segue muito difícil. Os hospitais quase viraram minha casa; me familiarizei com alas, técnicos, procedimentos, e termos médicos. Meu astral foi se deteriorando e me pego, por vezes, chorando do nada, na rua, dirigindo, sem controle sobre minhas emoções, que precisam ser retidas e controladas, quando junto aos meus entes queridos. Também fiquei sem chão, literalmente, pois a primeira parte do ano passei mais dentro do hospital, hospedada na casa da filha, e, depois, em apartamentos alugados. Emery, meu cantinho de paz, meu paraíso, ficou relegado a segundo plano. Sempre que consigo escapar para lá, encontro tudo, muito largado, com inúmeras coisas a fazer.
Estamos chegando ao término deste ano, e minha perspectiva não é alvissareira. Não consigo planejar nem a semana que vem, quanto mais Natal, final de ano. Estou vivendo cada dia, mas sem alegria, sem confiança, que os dias que virão serão melhores. Há só muita esperança e fé. Gostaria de alterar meu humor, ganhar força para continuar, mas as dificuldades são imensas. Não estou lutando somente com a doença física de meu filho amado, mas também com seu estado geral, seu humor, e com um convívio, que tem sido bastante difícil. Tenho procurado fazer e dar o meu melhor, que nem sempre é bom o suficiente. Sinto também falta da Tina, minha filha caçula, que em julho, deste ano, foi morar em São Paulo. A Pat tem me ajudado muito e se revezado nos cuidados do André. Já havia me ajudado enormemente, quando da doença e hospitalização do Juan, a quem ela queria muito bem. Dos meus três filhos era a mais ligada ao Juancito. Ela e as meninas, minhas netas, que, quando menores, durante seus períodos de férias conosco, aprenderam a conhecer e amar o vô de coração, como diziam.
Não quero perder minha fé e esperança de que a luz vai sair, e que tudo vai melhorar. Rezo, todos os dias, para que Deus me ilumine para que eu aja da melhor maneira possível, e faça escolhas corretas, que ajudem meu filho a enfrentar esta doença, com coragem. Peço que se não for possível reverter a doença, e ele se curar completamente, que não sofra, que encontre luz, e paz em sua mente e coração, e forças para continuar a lutar.
Cida Guimarães
24/11/23