terça-feira, 20 de julho de 2021

Saudade

 

Sentimento que pode ser lindo, triste,  romântico, nostálgico, e que nos invade de diferentes formas. 

Palavrinha que gostamos de dizer ser propriedade de nosso idioma, dificilmente traduzida em outras línguas.  Será? Talvez não exista uma palavra equivalente, em todos seus sentidos. Em uma pesquisa sobre termos mais difíceis de serem traduzidos, ficou em 7º lugar. Todo idioma tem palavras e expressões que são muito particulares, e não possuem um termo equivalente nas demais línguas.

Saudade tem sua origem no latim "Solitatem" (solidão), mas adquiriu, com o galego, novo sentido. Usamos o termo  de forma nostálgica, triste, romântica, e  para marcar a importância  dos demais em nossa vida, sinalizando a falta, pela distância, dos seres amados, dos lugares, que nos marcaram; quando perdemos alguém, algo, ou nos perdemos de nós mesmos. Você já sentiu saudade de você mesmo? 

Eu acho esta palavra linda, e há momentos em que o sentimento também é gostoso.  É bom lembrar cenas de nossa infância, juventude,  datas e eventos que ficaram na saudade. Recordar os filhos pequenos, suas descobertas, vitórias, percalços.  Lembranças queridas de momentos que não vão voltar.  e  que gostaríamos muito de  reviver, matar as saudades.  Talvez, viver, mais intensamente, cada uma das fases de nossas vidas que, hoje, já estão empanadas, e esmaecidas pelo tempo. Entretanto, nunca conseguimos, pois, mesmo que a gente reviva a experiência,  esta não é, e nunca será igual, e ficará sempre a saudade do que foi e não é mais.

Há tantas pessoas que passaram em minha vida das quais sinto muitas saudades! Umas, já, não mais vou encontrar; talvez, em outro plano. Ficaram em mim.  Outras, que ainda é possível, mas fica a dúvida de como será este reencontro. A mesma energia, sintonia, laços de afeto, ou a distância já terá criado um muro de frieza e reserva? 

Sim, a distância aumenta a saudade, mas também  cria muros de proteção, nos torna mais reservados, sem a mesma naturalidade, intimidade. Já não mais compartilhamos nossas dores, e amores, nossos bons e maus momentos.

Lugares, cheiros, comidas também nos deixam com muita nostalgia, com vontade de revisitar, de reviver momentos.  Assim me sinto em relação à casa de meus pais, na Lucas de Oliveira. Estão tão vivos em minha memória seus espaços: as salas, copa, cozinha, nossos quartos, o pátio, as inúmeras árvores frutíferas, as roseiras do papai. Lembro quando o levei perto de Montenegro para comprar e o cuidado, e carinho com que cuidava delas.
A casa da praia, que por muitos anos teve uma placa com meu nome, "veraneio Maria Aparecida", também  me remete a momentos felizes. Praticamente nasci lá, pois foi construída quando eu ainda estava na barriga da mãe, e foi nosso local de veraneio por muitas décadas.
                                         casa na Lucas de Oliveira

  O aniversário de minha mãe, no dia 24/12, sempre deu lugar à celebração do Natal,  festejado com um lindo, e enorme presépio, montado pela mãe, com  Papai Noel, e toda a família reunida.
Ela  preparava tudo, com muito amor e cuidado. Sempre se doando. 

  Natal na Vó Emery
 
Uma comida, um cheiro, provocam em nós sensações de pertencimento. Os doces em compota que mamãe fazia: laranja-azeda, figo, doce de batata-doce, de abóbora.  Sempre havia um docinho. Recordo-me que mesmo já  com idade avançada, fazia seus doces,  que nos ofertava quando a íamos visitar, dizendo: "Um docinho de batata-doce, um licorzinho?"
Adorava licor de vinho do Porto, e tomava seu cálice diariamente.
Estão  vívidos,  em minha lembrança,  os  aniversários  dos filhos, e os lindos bolos, com temas de princesas, e outros tantos, elegido pelos netos, que mamãe preparava, com tanto amor.
Minha primeira casa própria, na rua Barbosa Gonçalves, também é uma lembrança preciosa da infância de meus filhos, que podiam brincar na rua, encenar peças, colocar banquinhas para vender revistinhas, andar  de skate, etc.

1ª aniversário da  minha filha, Cristina, na Barbosa Gonçalves, entre os irmãos André Luis e Patrícia,  e primos Guto ,  Zé Antonio, Márcio, e Toninho ( no colo da  tia Lilia).

Saudades de outros tempos, quando recebíamos cartas, cartões postais, visitávamos as pessoas, sem precisar telefonar antes.  Ah, ligávamos, também. Era ótimo quando o telefone soava, ou a campainha tocava.  Muitas festas de aniversário na família. Todo mês tinha uma.  Imagina, nesta crise, com uma festa e presente a cada mês?
Havia mais interação, mais poesia nos relacionamentos, mais delicadeza no trato.

Será que este é um papo saudosista? Talvez, mas, sempre fica a vontade de reviver tudo que foi belo e bom. Saudades do que já foi. Nas outras etapas de minha vida, não tinha consciência da importância de viver o momento presente, de como tudo é fugaz, e que tudo é troca, mudança, sendo necessário curtir cada momento, como se fosse nosso último, porque não irá se repetir.

 Carpe Diem!


CidaGuimarães
20/07/2021



2 comentários:

  1. Lindo texto mãe e muitas saudades da infância, da vó, das reuniões na casa da vó aos domingos, família reunida, saudades do pai e da inocência da infância ❤️

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  2. Obrigada querida! São memórias, e saudades lindas.

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