sábado, 18 de julho de 2020

O que é compaixão ?

Qual a  importância de termos ou desenvolvermos compaixão? 

Qual seu papel em nossas vidas, em um mundo em que o egoísmo, a intolerância, a ganância, e as crises são múltiplas? Temos pandemia, corrupção, crise sanitária, política, econômica, social, e principalmente de valores. Precisamos desenvolver entendimento e compaixão.

Afinal, o que é compaixão?

    Conforme definição do Google é um substantivo feminino, e traduz o sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, sendo acompanhado do desejo de minorá-la. É a participação espiritual na infelicidade alheia, que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor,
 Se analisarmos a palavra, vem do latim COMPASSIO, que significa entender a dor de outra pessoa, e sentir dó de seu sofrimento. Esta compreensão leva ao desejo de ajudar, de partilhar o peso da dor. Tem muito a ver com a regra de ouro: "Faz a outrem o que gostaria que fizessem a ti."
  Todos nós gostaríamos de ser entendidos, amparados, amados. O anseio de todo ser humano é o de dar e receber amor, mas, frequentemente, adota comportamentos, que criam rejeição e abandono. Intencionalmente ? Creio que não.
 Hoje, em meio a esta pandemia de coronavírus, quando vemos tantas pessoas perdendo seus entes queridos, profissionais de saúde, correndo sérios riscos, milhares de pessoas, ao redor do mundo, com sérias dificuldades financeiras, emocionais, psíquicas, e físicas, o sentimento de compaixão deveria estar aflorado, e a solidariedade a tônica. Lamentavelmente,  não é a regra. Geralmente só é exercido quando a fatalidade  atinge alguém de nosso grupo, de nosso círculo familiar.  A morte está sendo banalizada, são números, estatísticas, que já não chocam , como deveriam.

Por coincidência, em meio a este cenário, que me tem levado a meditar e repensar uma série de coisas, assisto a um vídeo de uma professora, pesquisadora, PHD, americana Brené Brown, bastante tocante sobre a compaixão. Ela começa, sua fala,  com estas perguntas:

"Como posso reconhecer a dor do outro se não tiver primeiro empatia? Se não conseguir me colocar no lugar do outro? Usar a regra de ouro."

  
  Brown estabelece a diferença entre empatia e compaixão e diz que a empatia é uma técnica que pode ser ensinada e aprendida, sendo uma ferramenta para desenvolver a compaixão. Já a compaixão pressupõe uma humanidade compartilhada. 
  Refleti sobre esta visão, mas não consigo concordar integralmente. A meu  ver técnicas, são automatizadas, formais, frias, não tocam o  coração do outro, pois se usarmos só técnica nosso contato com o outro vai ser, sempre, superficial, não vamos estabelecer verdade, confiança, integração. É necessário ver com os olhos do outro, ter real interesse, falar de coração para coração, com sentimento.
 Precisamos  primeiro enxergar nossa escuridão, e que somente quando conseguimos ver a escuridão em nós (nossas falhas e buracos negros) aprendemos a entender e aceitar a escuridão dos demais, e ter compaixão. Aprendemos a ser gentis conosco, nos perdoar e, então, conseguimos perdoar e aceitar os demais. Esta diferenciação, sim. ressonou em mim pois creio que só entendemos, e podemos compartilhar algo, que já  experimentamos, que nos é familiar.


. A compaixão é gentil, é curiosa, sem suposições, desculpa incondicionalmente, está presente, é generosa, está ali, quer ver beleza no outro, não feiura, e também tem mistério pois podemos buscar Deus na face do outro.

Amo em Yoga, o Namastê  que é uma reverência ao outro. "Eu me curvo a você ". ou mais profundamente:  " A luz divina em  mim se curva à luz divina que existe dentro de você."

 Brown também menciona  a compaixão, como uma dádiva da meia idade. e diz: "Ter compaixão é você conhecer tão bem sua escuridão, que você  pode se sentar na escuridão, com  outros."

Lindo isto! É uma parte com a qual concordo 100%.Quando muito jovens, creio, não nos conhecemos bem, e somos alheios aos demais. Somos, meio, o centro do universo, e tudo gira ao redor de nossos interesses, e anseios. Estou meio generalizando, claro, a partir de mim.
 Eu olho para a  jovem que fui, e vejo uma pessoa muito distanciada, distinta do que sou hoje. Ao longo da vida, vamos tendo experiências fundamentais para nosso desenvolvimento. Gradativamente, conforme vamos envelhecendo, enfrentando e reconhecendo nossos buracos negros, começamos a aprender a identificar, e saber lidar com eles, e consequentemente, vamos nos tornando mais abertos, mais compassivos. Começamos a ver os outros, também , com olhos distintos. Olho, hoje, para as diferentes versões de mim, as diferentes etapas de meu desenvolvimento, e já consigo me reconciliar com minhas outras identidades, me tornando mais tolerante. Quando temos que olhar para  as nossas diferentes versões, as diferentes etapas de  nosso  desenvolvimento,  e integrar todas estas versões no que somos hoje,  nos  reconciliamos com nossas falhas, exercemos compaixão. Então, estamos mais prontos  a estender  este entendimento, aos outros.

A  compaixão é comprometimento, com busca de crescimento pessoal, sendo, também, uma prática espiritual, que demanda contato com nosso eu interior, compreensão das nossas limitações, e do ser humano, em geral. 
Na evolução da humanidade, compaixão sempre existiu  dentro do parentesco.  Natural,  faz parte de nosso genes, tentar ajudar nossos familiares, pessoas ligadas a nós, emocionalmente. Fazendo para o outro, estamos fazendo para nós mesmos. Mais tarde, foi estendido a pessoas próximas, e amigos. Entretanto, se o fato e/ou a situação acontece com alguém com quem não temos contato, o sentimento  tende a se diluir.

Em nossa sociedade moderna há muito pouca compaixão. Vivemos tão enredados em nossas histórias e dramas, que temos pouco ou quase nenhum espaço para o coletivo.
Para exercemos a verdadeira compaixão, temos que ser letrados emocionalmente, ou seja, ter conhecimento de nossos processos, aceitar,e compreender  que todos temos o direito de ser quem somos.
Quando exercemos compaixão, assumimos responsabilidade pelos nossos atos, pensamentos, e nos sentimos aptos a  dar espaço e respeitar o outro para ele ser quem é.
 A compaixão iguala, solidariza. Não é pena. Sinto que o que aconteceu com o outro pode acontecer comigo. É um sentimento de pertencimento, cria conexão. Já a piedade destrói a conexão porque inferioriza, e diminui o outro.
Uma sociedade compassiva busca a valorização dos indivíduos, respeitando suas  peculiaridades,  e  tenta agregar, construir pontes de conexão, minimizando pontos de atrito. É uma sociedade solidária, humana, guiada por amor, e convergências dentro das diferenças.



Sonho a ser buscado,. Não acredito que vá vivenciar, mas gostaria de imaginar meus filhos e netas  sendo movidos  e exercitando compaixão, em um mundo onde esta seja uma prática ensinada e praticada, por todos. Um mundo com mais amor e menos ódio.


 Eu saúdo o Deus que existe em você, Namastê!

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