terça-feira, 7 de julho de 2020

A fragilidade da Vida

 Assisti a uma palestra incrível da Susan David (*nota no pé da página) sobre a  beleza e a fragilidade da vida, e a necessidade de desenvolvermos agilidade emocional.
Como muitas das informações que recebemos, logo pensamos: "Já sei isto", mas este saber inconsciente nos é de pouca valia pois tentamos esquecer este fato, nos iludindo, e agindo como se fossemos imortais. Precisamos trazer este saber ao nível consciente, vivendo cada momento, conscientes, que tudo em nossa vida é  efêmero. Fomos, a maioria, criados com uma ideia equivocada sobre a morte, encarando como o fim de tudo, e nossa reação às perdas é, geralmente, desesperada, às vezes, trágica.
Quando estive no México, no ano passado, fiquei encantada com a cultura do país, e como encaram, de  forma tão distinta, a morte. 


As bonecas Catrinas são esqueletos de mulheres, usando chapéus, como distintivo da alta sociedade, do início do século XX, e representam a morte.  
São lindas, há algumas de porcelana, caríssimas, e outras de gesso, papel  machê, mais acessíveis. Conforme a cultura popular mexicana são a representação de  damas da sociedade, e nos fazem lembrar que as diferenças sociais não significam nada, diante da morte. Somos todos iguais. As Catrinas são figuras populares da Festa do Dia dos Mortos. Festa? Sim, no México este dia é festejado, e levam as comidas favoritas de seus falecidos entes queridos.
Me parece lindo que festejem a jornada de trabalho, dedicação, superação e conquistas dos seus  amados, que concluíram sua missão na terra, ao invés de lamentarem, já que todos nós iremos morrer um dia, nossa única certeza, e gostaríamos de ser lembrados pelo que conseguimos construir de bom. 

 A vida é inseparável da morte, é parte dela. Podemos estar mortos, ainda em vida, mortos-vivos, ou vivos após a morte. São verdades, que no âmago de nosso ser, temos ciência, mas que passam despercebidas no nosso viver. Tudo em nossa vida é efêmero:
 
vida x morte; saúde x doença; ganhar x perder; amor x ódio; trabalho x desemprego; riqueza x pobreza; ganhos e perdas.

Há muitas mortes em vida. De sonhos, perspectivas, esperanças. Tudo muda em um instante,  e podemos ir de um  extremo ao outro, em um piscar de olhos.

A ênfase no mundo atual, na mídia, nas redes sociais é a busca da satisfação dos sentidos, a felicidade, o pensar positivo. Seja feliz, Pense Positivo, como se a felicidade fosse algo permanente, e que pudesse ser apropriado. Esta busca incessante pelo que irá nos trazer felicidade, geralmente, vem acompanhada de muita  tristeza, e até mesmo depressão, pois sentimos que temos que esconder as frustrações, as perdas, a infelicidade. As conquistas são efêmeras, e logo se vai nosso sentido de felicidade. Criamos expectativas e objetivos irreais, que só nos levam a mais frustração e infelicidade, que tentamos disfarçar/encobrir. 
Como agora, nesta pandemia, quando a morte nos ronda de perto, somos obrigados a encarar nossa fragilidade, e vemos que somos mortais. É normal ter medo, mas precisamos olhar para dentro de nós, e encarar nossos buracos negros, com compaixão, aceitação, e buscando coragem e alternativas. Ou  tentamos ignorar, esconder a dor, ou nos afundamos nela, ou ficamos atolados,  e sem perspectivas.
Este período, também, tem testado nosso distanciamento social, que, é mais-que-tudo, um distanciamento físico. Podemos, ainda, estar em contato através de vídeo chamadas, áudios, virtualmente, mas sem o toque, o abraço, que tanto precisamos.
 Entretanto, há, muitas ocasiões, em que estamos rodeados  de familiares, conhecidos, e nos sentimos sós, isolados, não há o olhar amoroso, que nos enxerga.

 Na África, há um cumprimento, lindo "Sawubona" que quer dizer: "Eu te vejo, você é importante para mim, e eu te valorizo". Que bom se todas nossas interações pudessem ser assim!  Enxergando o outro, com  troca,  preocupação autêntica, com o  outro.

De acordo com a Dra. Susan, temos AGILIDADE EMOCIONAL, quando conseguimos abrir um espaço, definido por Viktor  Frankl (*nota abaixo), como espaço de escolha. Entre o estímulo(situação-gatilho)e nossa resposta (ação), podemos apertar o botão de pausa "PARE" (ver blog anterior) e refletir, olhar por diferentes perspectivas. Somente quando conseguimos abrir este  espaço de sentir,  reconhecer, e aceitar nossas emoções, lidando com elas,  com nossas dores,  perdas, com carinho, e aceitação, aprendendo  com o que pode ter havido de positivo/negativo na situação, desenvolvemos nossa agilidade emocional, conseguindo seguir. 
Para que isto ocorra, é necessário silêncio, meditação focada, Mindfulness( blog anterior) , ou como é denominada em português, Atenção Plena, para que possamos acessar nosso eu interior, nosso espaço de escolha, criando a pausa necessária para  lidar com a situação-crise, e fazer as escolhas necessárias, e poder, então, ir adiante.

                                                                                                                        
 Cida Guimarães


* Susan David, psicóloga e mestra da Universidade de Harvard, autora do livro       "Agilidade Emocional" 
* Viktor Frankl foi um neuropsiquiatra austríaco, fundador da Logoterapia e Análise existencial. Famoso por seu best-seller "Em Busca de Sentido", onde descreve sua experiência nos campos de concentração nazistas.

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