segunda-feira, 26 de maio de 2025

Escolhas


Hoje me peguei imersa na pergunta que, talvez, esteja na raiz de toda inquietação humana: o que determina nossas escolhas?

Seriam valores introjetados, preconceitos herdados, projetos que delineamos como quem tenta impor uma ordem ao caos? Ou seriam sonhos, paixões, medos e a busca incessante por alguma forma de segurança?

 Talvez, quem sabe, uma alquimia irrepetível de tudo isso — razão, emoção, intuição, desejo de afirmação — que, em proporções indefinidas, molda cada decisão.

Tentamos, em vão, encontrar fundamentos sólidos para nossas escolhas. Mas a verdade é que jamais escolhemos com plena consciência; toda escolha carrega consigo uma névoa de incerteza. E talvez seja por isso que tememos tanto escolher: porque intuímos que, ao fazê-lo, inexoravelmente perderemos algo. E não há garantia de que o ganho compense a falta, ou que preencha o vazio que a renúncia deixará.

Cada escolha é uma perda — e um possível ganho, tão incerto quanto  a própria vida. Somos insaciáveis: queremos tudo, desejamos manter intacto o que conquistamos, como se fosse possível fixar o efêmero, aprisionar o tempo, negar o fluxo natural das coisas. Mas não somos donos de nada; tudo nos atravessa e tudo, cedo ou tarde, exige um adeus.

Urge, então, aprender a arte difícil e libertadora do desapego: deixar ir, dizer adeus, compreender que tudo é transitório. Nós mesmos — com nossos desejos, conquistas, apegos — estamos apenas de passagem. Esta travessia pode ser fértil, deixando pegadas, sementes que florescerão em outros tempos e corpos, ou pode ser apenas poeira, levada pelo vento, dissolvida no esquecimento.

Resta-nos a esperança — ou talvez o dever — de deixar um rastro: uma trilha, ainda que tênue, de aprendizado e amor. 
Do contrário, talvez nossas escolhas tenham sido apenas movimentos cegos, desvios que não souberam cumprir a sua vocação essencial: transformar, conectar, fecundar.


Cida Guimarâes 
26/05/2025

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